quarta-feira, 15 de abril de 2009

ONDE TERMINA O MITO E COMEÇA A RELIGIÃO?

O mito surge a partir da necessidade de se explicar a origem de algo. Essa explicação estará sempre ligada ao divino o qual será a matéria-prima para a criação do mundo e de tudo que nele existe. Dessa forma, em várias narrativas, podem-se perceber deuses interagindo com humanos chegando a manter relações sexuais com pessoas, é perceptível também a rivalidade entre esses deuses e ainda recompensas e castigos impostos aos homens por eles.

Antes da invenção da escrita, essas narrativas mitológicas eram passadas por tradição oral, sem haver preocupação com a veracidade desses fatos sobrenaturais. O mito era a verdade desses povos.

Em contrapartida, a ciência faz o homem deixar sua antiga ingenuidade e o faz olhar para tudo com um pensamento mais crítico, buscando um conhecimento racional e lógico da realidade natural e humana.

O mito, entre os primitivos, não era lenda, mas uma verdade como processo de compreensão da realidade. Sua função principal é acomodar e tranquilizar o ser humano em um mundo assustador. O mito, entre as comunidades primitivas, transborda os limites do sagrado e atinge a todos os campos da realidade humana, portanto recorre-se a deuses para compreender as origens e a natureza dos fatos, tais como a origem da técnica e manuseio do fogo (mito de Prometeu), a natureza divina dos instrumentos e a origem das estações do ano (mito de Perséfone e Demeter). Segundo Mircea Eliade, filósofo romeno, uma das funções do mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas.

O mito está intimamente ligado à religião. Fica impossível determinar onde termina o mito e onde a religião começa. A formação dos conceitos dos deuses é distinguível em três fases:

I. Deuses momentâneos: esses deuses não representam nem forças da natureza nem aspectos especiais da vida humana. Eles se tratam de conteúdos mentais como Alegria, Inteligência, Medo, etc.

II. Deuses funcionais: essa etapa é caracterizada pela divisão do trabalho. Assim, toda atividade ganha seu deus funcional (deus da agricultura, deus das artes, deus das festas etc.).

III. Deus pessoal: o nome do deus funcional perde a ligação com sua atividade e torna-se um nome próprio, criando um novo ser capaz de sofrer e agir como pessoas.

A partir do desenvolvimento dessa terceira fase, surgem então as religiões monoteístas voltadas para as questões morais do indivíduo, concentradas na dualidade imposta pelo bem e o mal. Pode-se perceber, portanto, que a religião está intimamente ligada ao mito.

Com a instauração da Igreja Católica em Roma feita pelo imperador Constantino, as crenças pagãs nas divindades greco-romanas foram extintas, mas será que totalmente? Nossa cultura está até hoje impregnada de conceitos mitológicos que se resumem em algumas palavras como casamento, morte, vida, plantação, colheita, dentre outros.

Sabe-se que a Igreja Católica, de seu surgimento à Idade Média, modificou e modelou em seu benefício muitas das conceituações que até hoje são vigentes dentro do Cristianismo romano. Temos como exemplo disso a personagem bíblica Maria de Magdala (ou Madalena), que foi personificada pela Igreja como prostituta, ou mesmo a questão de unigenia de Jesus.

Pergunto-lhes então: até onde o que cremos é mito ou verdade?

Adriano Melo

6 comentários:

T@CITO/XANADU disse...

Obrigado Adriano, por visitar xanadu/poesias é uma honra tê-lo como prestigiador.
Achei muito interessante os assuntos abordado em seus textos.Bem como, a forma em que o fazes. Voltarei em breve!
Tácito.
PS. Estarei esditando o teu link por lá também.

Adelcir Oliveira disse...

Obrigado pelo elogio ao blog. Eu estava lendo este texto sobre mito e já deu pra perceber que você escreve bem, além de demonstrar conhecimento sobre o assunto mito. Tive que parar a leitura, pois estou no trabalho. Mas voltarei para terminar e ler outros textos...

Abraço.

Victor Borba disse...

Valew pelo comentário lá no blog cara. Gostei daqui tb, pretendo voltar.

Abraço.

Ângelo disse...

MUITO BOM. Interessante, o seu blog me cativou desde o título: Contos crônicas e poesias.

É justamente o que escrevo no meu blog. E ao entrar aqui me deparo com essa bela crônica, inteligente e interessante. Vale citar uma passagem e reiterar um quetionamento já levantado por você de maneira indireta no texto :
"...uma das funções do mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas."

Posto isto, vejo muitas pessoas cometerem o absurdo de se afirmarem "céticas" e ao mesmo tempo adeptos da religião católica. Não seriam as coisas impostas pelo livro sagrado do catolicismo confirmadas apenas via dogma? E não seria a religião católica uma maneira de fixar costumes, hábitos e ditames que cercam a filosofia cristã?

Excelente texto, parabéns.

Anônimo disse...

Passei por aqui e gostei... vc escreve muito bem. Parabéns!!

Abraço

Anônimo disse...

R: Que bom que gostou... volte sempre que quiser, será um prazer recebe-lo! =)

Abraço

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