quarta-feira, 24 de junho de 2009

A carne é fraca

A carne é fraca. Brasil, 2004. 54 minutos. Dirigido por Denise Gonçalves.
Comer carne, um hábito que é comum entre milhões de pessoas no mundo, não nos faz pensar de onde provém tal alimento. Nina Rosa Jacob, idealizadora do filme A carne é fraca, dirigido por Denise Gonçalves, pretende mudar nossa forma de encarar um delicioso pedaço de picanha ou um simples frango que comemos no almoço nosso de cada dia.
O filme é um documentário muito bem estruturado e com depoimentos de pessoas como o jornalista Washington Novaes e João Meireles Filho, do Instituto Peabiru de Belém-PA, além da própria idealizadora e outros mais. Todos são vegetarianos e pretendem, através desse documentário, tocar o maior número de pessoas possível. Para tanto, usam de uma bem organizada rede de argumentação que mescla dados científicos, depoimentos pessoais e imagens fortíssimas, por assim dizer.
O filme pode ser fragmentado em quatro partes, considerando os tipos de argumentação que formam cada uma até chegar a sua conclusão (parte final), com uma solução coerente para os problemas apresentados.
A princípio, o tema das argumentações é o meio ambiente. As falas mostram que o consumo de carne afeta diretamente o meio ambiente e o bem-estar dos animais, chegando a apontar o consumo de carne como “o maior problema ambiental do planeta”, de acordo com João Meireles Filho. O filme mostra que a pecuária é a principal razão para o desmatamento da Amazônia e da Caatinga a fim de expandir as fronteiras agropecuárias.
Dando sequência, as atenções se voltam para a vida dos animais, ou melhor, para a crueldade praticada contra eles, figurando o paradoxo que a indústria faz ao utilizar, em seus comerciais, a imagem de animais “felizes”, quando estes, na verdade, são vistos como uma mera matéria-prima tal qual a madeira ou o plástico. Uma das cenas que complementam esses argumentos é chocante: a seleção de pintinhos é feita de maneira rude, literalmente jogando fora os que não têm utilidade. Como os animais são impedidos, na granja, de selecionar seu alimento, os produtores extraem seus bicos para que não ocorra canibalismo entre as aves, as quais chegam a níveis elevados de estresse. Em relação ao gado, ele é levado ao abatedouro, passando por um verdadeiro “corredor da morte”, já ciente de seu triste fim. Sabe-se que as vacas só produzem leite enquanto com filhotes. As cenas mostram o filhote sendo separado da mãe, que é obrigada a produzir três vezes mais leite que o normal, enquanto o filhote tem sua carne comercializada precocemente (vitelo ou babybeef). Como último ponto dessa tortura aos animais, o documentário retrata os leitões, que têm seus testículos extraídos a sangue frio para que engordem mais.
A terceira parte do filme, para aqueles que não se sensibilizaram com os danos ao meio ambiente ou aqueles outros que não se condoeram com os maus-tratos aos animais (o que considero impossível!), enfoca a saúde. Um dos principais argumentos, talvez o mais forte, é a comprovação científica de que só existe câncer em animais carnívoros. A partir de então, A carne é fraca se volta para os benefícios dos alimentos vegetais e aponta, com maestria de um silogismo, o vegetarianismo como solução para todos os problemas causados pela cultura da carne e dos alimentos de origem animal.
Por fim, é certo que todas as pessoas que assistirem a esse documentário não encararão mais a suculenta picanha da churrascaria ou o franguinho frito do almoço como antes. Certamente há de existir um peso na consciência, por menor que seja.
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